BRASIL
Os povos indígenas do mundo pagaram um preço alto pelos vírus, doenças e infecções do colonialismo. A covid-19 não é exceção e os pesquisadores alertam que a pandemia do coronavírus pode deixar feridas difíceis de curar entre os povos indígenas do mundo. No sul do Brasil, a pandemia de covid-19 significou mais uma tragédia para um povo já abaixo de ataques políticos, econômicos e sócias – guaraní-kaiowá.
“A covid-19 não significa uma nova condição para nós”, explica Rosicleide Vilhalva, líder da rede social Retomada Aty Jovem.
O covid-19 paralisa economias, o vírus barricado nações e a pandemia exige sacrifícios pessoal. A pandemia também confirma que os poderosos globais podem agir rápida e cabalmente, com consequências diretas, quando é necessário.
Mas, como sempre, não em todos os lugares.
Na Amazônia brasileira, a pandemia expõe a fragilidade de sistemas de saúde. Vítimas por uma organização deficiente, enquanto o covid-19 corrói comunidades isoladas. Vários líderes tribais já morreram nas suítes do coronavírus, alguns por se recusarem a procurar atendimento médico “no mundo afora da floresta”
Em Brasil, mais de 50.000 casos de covid-19 dentro povos indígenas são confirmados, de acordo de cifras pelo movimento social Articulação dos Povos Indígenas do Brasil. Mais de mil pessoas dos grupos indígenas morreram pelo vírus e o coronavírus já se infiltrou 163 povos diferentes.
Contínuo ataques dos “grilheiros”
No sul de Brasil, pela fronteira com Paraguai no estado Mato Grosso do Sul, o clima socioeconômico e político continua a ser frio. Aqui, a pandemia não aliviou o apetite por terra dos produtores de soja. “Os grilheiros” – ladrões de terra muitas vezes pagado pelos fazendeiros – continuam a roubar a terra nas mãos de guaraní-kaiowá.
“Os grilheiros” vêm a noite, antes do amanhecer, sempre protegido no escuro. Raios de tiros. Medo e pânico. A vida de homens, mulheres e crianças são questionadas – as pessoas já vulneráveis têm sua existência questionada.
“Nossas terras continuam a ser roubados e arrancados. Deste sentido, tudo continua igual – apesar da pandemia”, Tonico Benites, antropólogo e líder da comunidade Apy Ka’y, explica pela Revista Global.
Ladrões de terra de Mato Grosso de Sul é uma ocupação que não sofre nenhum “choque corona”. Os trabalhos dentro a indústria de roubar terras dos povos indígenas são seguros com o exigem eterna por terra para cultivar soja.
“Ao contrário, a covid-19 piorado muito”, diz Tonico Benites.
Terras históricas, bosques desaparecidos
Aqui, no coração do America do Sul, espalhou a Mata Atlântica. Uma enorme cobertura florestal da costa atlântica à terra quente e seca do Chaco, perto dos pés dos Andes, por meio de savanas localizadas no centro.
Mas todo isso foi antes da chegada da Revolução Industrial – e a consequências de longo prazo da Guerra do Chaco, entre 1932 e 1935.
Indústrias e grandes metrópoles rapidamente remodelaram as condições de vida da ecologia, dos animais e dos humanos. Agora é uma terra colonizada pelo cultivo de soja em grande escala.
Todos os espelhos históricos parecem ter sido quebrados e ninguém mostra nenhum interesse em aprender com a história. Nem o Brasil, nem o Paraguai, nem o mundo exterior que mantém viva a demanda por soja.
Particularmente notável foi o vento da mudança para o guaraní-kaiowá. Durante o Século 19, suas terras foram divididas ao meio quando a fronteira entre o Brasil e o Paraguai cortava como uma faca as florestas e as margens dos rios. As reformas agrárias mais tarde efetivamente limparam hectare após hectare do guaraní-kaiowá e transformaram o Mato Grosso do Sul em uma das zonas pecuárias mais importantes do Brasil.
Pragas plantadas
Durante a ditadura militar entre 1964 e 1985, o genocídio de guaraní-kaiowá contínuo, come o genocídio de povos indígenas do Brasil em geral.
Vírus potencialmente letais como o covid-19 podem ser disseminadores tão eficazes quanto as injeções em ambientes apertados e na pobreza. Os vírus ganham uma posição mais fácil e, além dos riscos à saúde aceitos pelo vírus covid-19, também atingem a ansiedade, o estresse e aumentam o isolamento de grupos étnicos já vulneráveis.
Em 2016, uma onda de gripe suína varreu as comunidades densamente povoadas de guaraní-kaiowá no Mato Grosso do Sul, e causou muitas mortes.
“Covid-19 não é a única pandemia para nós, os guaraní-kaiowá. Somos forçados a atravessar e tentar sobreviver e nossa situação de emergência surgiu muito antes de o resto do mundo parecer experimentar ‘uma situação de emergência’”, Rosicleide Vilhalva, líder da rede social Retomada Aty Jovem, explica a Revista Global.
A pandemia covid-19 não pode ser comparada com a onda de influenza de 2016, o curso da doença do coronavírus é semelhante ao da gripe suína.
“As doenças infecciosas e parasitárias estão entre as principais causas de morte entre os indígenas brasileiros – especialmente em comparação com o restante da população do país – por serem mais suscetíveis às doenças respiratórias”, escrevem os escritores da publicação.
O preço de exclusão
Em sociedades onde o isolamento político e socioeconômico domina a vida cotidiana, as pandemias chegam não apenas sob a forma de fantasmas do passado. Mas talvez principalmente como profecias agourentas sobre um futuro sombrio.
“O vício em várias formas, como álcool e drogas, era um problema generalizado e grave mesmo antes de covid-19 – mas agora a situação é ainda pior”, afirma Tonico Benites.
O isolamento leva à perda de empregos e renda que prolonga o ciclo depressivo ao final do qual poucos vislumbram qualquer esperança.
“Nós, os guaraní-kaiowá, somos invadidos em todas as frentes”, diz Rosicleide Vilhalva.
Entre 2001 e 2018, 14 militantes da terra foram assassinados, não raramente em suas casas – depois de travar uma luta aberta pelo direito do guaraní-kaiowá à terra de acordo com a constituição brasileira de 1988.
Muitas crianças crescem em condições miseráveis e as dificuldades dos pais, na forma de abuso e desemprego, muitas vezes levam a uma desnutrição grave, às vezes até a uma fome aguda.
“Covid-19 piorou uma situação já grave. Isso fez com que muitos, principalmente as mulheres, ficassem mais isolados e expostos a ameaças e violência doméstica”, diz Rosicleide Vilhalva.
Dos investimentos prometidos – por exemplo poços de água limpa, livre de toxinas e lama das plantações de soja próximas – os moradores das comunidades cada vez menores de guaraní-kaiowá não viram nada, explica Tonico Benites.
“Ninguém se importa conosco”, ele diz.
“Errado – não importa como façamos”
Em tempos de programas de vacinação ocorrendo em vários países no mundo, principalmente nas partes ricas, muitas pessoas já pintaram uma vida do outro lado do covid-19.
Socializar, viajar, tomar um café. Uma vida de movimento.
Para o guaraní-kaiowá, o isolamento da pandemia do coronavírus certamente foi um grande desafio, mas mesmo assim é descrito em muitos aspectos como um reforço de uma realidade cimentada.
Do outro lado da covid-19, ao longo da fronteira entre o Brasil e o Paraguai, as terras tradicionais continuam encolhendo como resultado do roubo de terras, abuso e racismo estrutural que mantém muitos bem longe de trabalho e oportunidades – deixados na pobreza e miséria.
Assim, a pandemia não é o único obstáculo pelo guaraní-kaiowá para um mundo melhor e mais saudável, explica Tonico Benites.
“A pandemia colocou as coisas na linha de frente. Se as pessoas quebrarem as restrições e tentarem trabalhar juntas para arrecadar dinheiro para comida, elas correm o risco de serem infectadas com covid-19 e infectar o resto de suas famílias. Se, por outro lado, forem obedientes e seguirem as restrições e ficarem em casa e se isolarem, a fome e o desespero vão piorar. Está dando errado, não importa o que eles façam”, diz o antropólogo.
Chamadas de ajuda ignoradas
Na primavera de 2020, várias associações do guaraní-kaiowá – a Assembleia Geral Aty Guasu, o movimento feminista Kunangue Aty Guasu e o movimento juvenil Retomada Aty Jovem – se uniram e gritaram por ajuda ao mundo exterior. A mensagem foi que a infecção do coronavírus se espalho como um incêndio sem nenhuma intervenção das autoridades brasileiras.
“Pedimos ajuda, mas até agora ninguém apareceu” explica Tonico Benites, um dos autores da mensagem de emergência.
Casos de covid-19 continuam a ser documentados entre os guaraní-kaiowá, principalmente graças da documentação por pessoas como Tonico Benites, menos pelo trabalho das autoridades. Uma decisão do Supremo Tribunal Federal do Brasil em agosto de 2020 determinou que o governo do presidente Jair Bolsonaro deve que melhorar a proteção dos povos indígenas de covid-19 – mas Brasil é, em março 2021, um país com quase 12 milhões de casos documentados de coronavírus, e 285 mil de mortes.
Rosicleide Vilhalva olha para o mundo exterior. Para um horizonte incerto. Para um fundo de decisões coloniais. E consequências. No Século 17, a administração colonial espanhola em Buenos Aires exigiu um aumento nas importações de escravos, uma vez que a varíola acabou com o trabalho forçado doméstico.
Para as atuais áreas de fronteira entre o Paraguai e o sul do Brasil e sua outrora população guarani dominante, no entanto, foram os missionários que trouxeram com eles sentenças de morte na forma de poxvírus.
“Os jesuítas, uma associação mais adequada a números exatos do que a maioria, estimaram que 50.000 morreram nas estações missionárias do Paraguai na epidemia de 1718, 30.000 nas aldeias Guaraní de 1734 e 12.000 em 1765”, o autor Alfred Crosby escreveu em “Imperialismo Ecológico”, publicado em 1986.
Ondas de suicídio
É um pouco irônico, diz Rosicleide Vilhalva, que o mundo agora entende a existência pandemias. Talvez porque a sociedade individualista de repente se veja questionada e desafiada da mesma forma que por muito tempo constituiu a realidade pelo guaraní-kaiowá.
Talvez porque certas formas de vulnerabilidade não possam ser compreendidas até que a pessoa se veja exposto a elas.
O isolamento e as paredes erguidas do mundo exterior em muitos aspectos abusaram severamente da comunidade interna que manteve o guaraní-kaiowá vivo ao longo de uma história contemporânea repleta de genocídio em andamento. Roubo de terras, racismo estrutural e degradação cultural são “elementos centrais” da ordem capitalista que permeia o Brasil moderno, escreve Antônio Augusto Rossotto Ioris, geógrafo humano da Universidade de Cardiff, em Revista Sage.
Muitos jovens não têm forças, e suicidam-se. Muitas vezes na forma de “ondas suicidas”. Outros caem no vício, outros desaparecem e nunca mais se ouvem falar deles. Em todos os casos, são tragédias pessoal e pelas famílias afetadas.
“Nós, os guaraní-kaiowá, vivemos em uma pandemia contínua desde o início da modernização do Brasil. A covid-19 não significa uma nova condição para nós – apenas é uma versão pior da realidade que já existe”, afirma Rosicleide Vilhalva.
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Klas Lundström Martínez é escritor e repórter. Ultimamente, ele publicou reportagens sobre a Mongólia, Paraguai, Tadjiquistão e Papua Ocidental para vários meios de comunicação internacionais.
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Este artículo fue publicado en SOLO Magazine.